“Esta insatisfacão
não consigo compreender Sempre esta sensação Que estou a perder Tenho pressa de sair Quero sentir ao chegar Vontade de partir P'ra outro lugar Vou continuar a procurar O meu mundo O meu lugar Porque até aqui eu só: Estou bem aonde eu não estou Porque eu só quero ir Aonde eu não vou Porque eu só estou bem Aonde eu não estou” (...) “Estou Além” de António Variações, uma descrição simples e tão precisa daquela sensação que chega a ser angustiante, pois por mais que se faça ou que façam por nós, nada chega. Tal como ele diz: “Não consigo dominar Este estado de ansiedade A pressa de chegar P'ra não chegar tarde não sei de que é que eu fujo Será desta solidão Mas porque é que eu recuso Quem quer dar-me a mão” Costumo dizer que a insatisfação, é como um consumidor de energia, precisamente porque ao sentir insatisfação (interna) tendemos a procurar alimento (fora/externo) e na realidade, quanto mais se procura menos saciados ou satisfeitos ficamos, e consequentemente mais ansiosos e angustiados, porque já tentamos tudo o que estava fora e nada resultou! Na realidade esta sensação que é tão visceral porque sinaliza algum tipo de necessidade psicológica. Ao contrário do que é o senso comum ou o nosso primeiro instinto, a solução está dentro, está na aceitação e não resignação, do nosso estado. Quantas vezes não ouvimos dizer ou dizemos para nós próprios: eu vou ser feliz quando…, eu queria era ter um namorado(a) que fosse assim (quando na realidade já têm), as pessoas que estão constantemente a mudar as coisas em casa de lugar, ou de sítios para viver (sem necessidade), quando nunca mais se consegue acabar um trabalho, porque ainda não está suficientemente bom... Mas atenção! Precisamos da insatisfação para evoluirmos, desafiarmo-nos, crescermos. A questão está em encontrar um equilíbrio (sei que por vezes difícil) entre, um continuar a procurar, melhorar e explorar e uma tranquilidade em que possamos dizer a nós próprios está tudo bem (mesmo que o trabalho não esteja exactamente como nós desejaríamos, mesmo quando estamos a sentir que o dia não está a correr tão bem, mesmo quando se queria algo mas naquele exacto momento não é possível).
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Gostaria neste texto de partilhar convosco, uma ideia com a qual eu me identifiquei bastante sobre a forma como lidamos com as nossas preocupações, que ouvi de uma pessoa que percebe muito de bem-estar.
Se fizermos um pequeno exercício de pensar o que é que achamos das preocupações, tendencialmente vamos todos dizer que são más e que não as queremos. Mas na realidade será isso mesmo assim?! A nossa mente está constantemente a criar preocupações que nos colocam num tempo que não é o momento em que estamos a viver, mas sim num futuro. Isto é, estamos a antecipar algo, “ estamos a pré ocuparmo-nos com preocupações”. Este foco no medo de um futuro conduz inevitavelmente a sintomas de ansiedade, onde se incluem por exemplo as insónias. Sendo algo que nos faz sentir tão desconfortáveis, qual será a melhor forma de lidar com elas? A resposta pode parecer complexa mas na realidade é tão simples como: ocuparmo-nos com aquilo que nos preocupa. Pode à partida parecer estranho mas, na realidade significa assumir responsabilidade pelos nossos actos e pelas consequências dos mesmos, ou seja fazer algo de concreto. Na minha prática clínica, oiço muitas vezes as pessoas dizerem que determinada coisa as preocupa, mas quando exploro a preocupação, muitas são as vezes em que percebo que as pessoas ainda não agiram, isto é, ainda não se ocuparam com aquilo que as preocupa. Exemplos muito simples, quando alguém diz: i) estou muito preocupado com os exames ou testes académicos e se percebe que as pessoas ainda não começaram a estudar ou a organizar o seu estudo ou ii) quando alguém tem receio que a relação amorosa possa terminar mas ainda nem sequer falou com o parceiro sobre isso ou agiu para que algo ficasse melhor. Experimentem pensar em algo que vos preocupa (podem começar com algo simples como uma situação que têm de resolver urgentemente) e de seguida, ocupem-se a fazer algo de concreto para a eliminar, nem que seja parcialmente, e estejam atentos ao que sentem de seguida. Muito provavelmente irão sentir um maior alívio da ansiedade ou tensão e uma maior sensação de tranquilidade, como se a preocupação tivesse tomado uma proporção menor. Numa data onde se comemora a liberdade, decidi escrever sobre a mesma como expressão da libertação de aprisionamentos pessoais. Esta ideia surgiu quando estava a assistir a um concerto inserido nas comemorações do 25 de Abril e ouvi o verso: ” Desaprender a vontade de sofrer”, que faz parte de uma música chamada “Vira a vida” do “projecto Kaya” . Este verso despertou a minha atenção, pois de imediato a associei a liberdade. Pode parecer estranho ou até paradoxal, esta vontade de sofrer, mas ela está presente em algumas pessoas ou em alguns momentos, na maior parte, sem que as mesmas se apercebam, é claro.
Por vezes, no passado o sofrimento esteve tão presente na vida das pessoas que mesmo não havendo motivo para o viver na actualidade, elas continuam como se ele lá estivesse, pois, foi de facto aprendido. Na realidade, as pessoas estão presas a crenças que já não fazem sentido e não contribuem para o seu bem-estar e crescimento pessoal. Por isso, é necessário desaprender esta vontade, através da luta e busca de coisas que lhes tragam felicidade, conforto e paz entre outras sensações que lhe permitam sentirem-se livres para ser. Sentir que merece ser feliz é uma forma de se sentir livre. Permita-se a si próprio ser livre! Este não é um texto sobre relações amorosas, mas sim, sobre relações em geral. Relacionarmo-nos é uma coisa natural, o que não significa que não haja desafios com os quais temos de lidar. Um desses desafios está relacionado com a noção de espaço pessoal (ou bolha pessoal).
As relações têm níveis, isto é, podem evoluir de um nível em que o espaço pessoal de cada um não se toca, para um nível onde não há distinção entre o espaço pessoal de cada um. Na nossa vida, existem relações que estão em diferentes níveis e isso é importante, no entanto, as relações mais significativas e que contribuem mais para o nosso bem-estar são aquelas onde os espaços pessoais do Eu e do Outro se interligam. Frequentemente vejo as pessoas a existirem pouco na realidade do outro, tomando como exemplo: “não o vou incomodar com as minhas coisas”, “ele tem mais do que fazer, por isso não o vou convidar para ir a algum lado”, “na minha vida não acontece nada de especial, por isso não tenho nada para dizer”. É claro, que muitas vezes, trata-se mais de uma questão intrapessoal, em que há uma desvalorização do próprio e é isso que vai determinar a relação que estabelece com o outro. Contudo, muitas vezes o outro quer que ele o convide e que partilhe a sua vida, mesmo que possam ser coisas básicas, da vivência do dia-a-dia. No extremo oposto, temos as pessoas que fundem os seus espaços pessoais, tudo nas vidas depende do outro, das suas opiniões, decisões, saídas com outras pessoas. Desta forma, faz sentido falarmos na distinção entre proximidade e intimidade. A capacidade para estarmos próximos de alguém está diretamente relacionada com a diferenciação do indivíduo, podem fazer o exercício de responder à seguinte questão: Como é que eu me defino na ausência de relação? .Por outro lado, a intimidade está relacionada com o equilíbrio poder e vulnerabilidade e envolve a consciência de que sou separado do outro com partes que podem ser partilhadas. A palavra partilha torna-se fundamental neste processo, pois é o nível de partilha que também define o nível de relação. Eu posso partilhar o meu descontentamento com o tempo de chuva, o resultado do jogo de futebol, dar a minha opinião sobre um assunto, as minhas emoções sobre a forma como alguém me fez sentir ou mesmo vulnerabilizar-me ao lado de alguém. Uma coisa importante é não confundir partilha com divisão, tal como dizia uma colega no outro dia, a partilha gera abundância e a divisão simplesmente escassez. A partilha é mais do que simplesmente uma divisão do tipo cinquenta cinquenta, em relação às tarefas, dinheiro, ideias, número de vezes que se teve a iniciativa de fazer algo. Tendemos a estabelecer diferentes tipos de relações com diferentes pessoas e diferentes contextos, embora cada um de nós tenha uma tendência para determinado estilo de funcionamento. Existem alguns estilos de funcionamento que podem causar mais dificuldades no bem-estar e nos objetivos interpessoais, são eles: o intrusivo, o evitante e o idealizante. O intrusivo é aquele que invade o espaço do outro, tende a puxar a intimidade e não a proximidade e isso assusta o outro. O evitante é aquele que se protege demais, ou seja não existe no espaço do outro e o idealizante, que apenas procura aquilo que idealizou e não está disponível para aquilo que surge. Para finalizar, é necessário um equilíbrio entre aquilo que Eu e o Outro precisamos. De um modo geral, esse equilíbrio vem da capacidade de diferenciação, da existência de reciprocidade, da proximidade, da intimidade, da partilha e fundamentalmente de um encontro daquilo que eu tenho e estou disposto a dar e o que quero e preciso receber. Neste texto gostaria de reflectir sobre o “sentir”, questão que à partida parece simples mas que por vezes se complica bastante. A capacidade para sentir é mais ou menos comum a todos nós, sentimos: calor, frio, o sabor daquela comida deliciosa, o vento a bater na cara, a saudade quando alguém de quem gostamos está longe, a alegria, a angustia, o medo, o prazer … São inúmeras as sensações e emoções que podemos sentir. No entanto, muitas vezes chagamos a um ponto, onde andamos às voltas e surge a questão: “O que é que eu estou a sentir? E esta pergunta repete-se vezes sem conta. Esta questão torna-se um problema, não quando surge mas precisamente quando nos impede de “ver” ou melhor “sentir” aquilo que está lá, e entramos numa espiral de dúvidas e ruminações sobre aquilo que nos preocupa. Podemos pensar sobre o porquê disto acontecer e neste sentido surgem várias hipóteses, diria que uma das primeiras será o facto de que realmente ao longo do nosso crescimento, vamos adquirindo imensos filtros sociais que nos levam a questionar: “Será que devia sentir isto que estou a sentir?”. As crianças, por outro lado, dão mais atenção àquilo que estão a sentir e manifestam precisamente isso. Uma outra hipótese, que vem no seguimento da primeira é o facto de haver uma tendência para a racionalização e/ou intelectualização daquilo que sentimos. Isto é, tendemos a pensar na experiência que tivemos sob vários aspectos, tentamos encaixar em alguma teoria, procuramos todos os significados possíveis e sem dar por isso, saímos da experiência inicial. Por fim, considero que uma terceira hipótese se relaciona com o facto de estarmos muito focados no que se passa ao nosso redor, no exterior, sem dar muita atenção ao que se passa connosco, e quando me refiro a isto, estou-me a referir ao nosso corpo. Muitas vezes, o nosso corpo está a dar sinais (dores de costas, tensão muscular, dores de cabeça) que precisa de descansar ou de ser cuidado de outra forma, mas continuamos como se isso fosse um luxo que o corpo está a pedir. Mas o nosso corpo não nos dá apenas esta informação, também nos dá informação de que estamos bem, porque andamos a cuidar bem dele e de nós. A resposta à questão do título: “Como é que eu posso ter a certeza daquilo que estou a sentir?” não é uma resposta linear, mas pode ajudar, passarmos a escutar mais o nosso corpo. Quando estamos “embrulhados” nesta questão, tentar perceber: Como é que o meu corpo está a reagir a esta situação?, quais as zonas do meu corpo onde estou a sentir?, com que intensidade? É algo novo, é algo que costumo sentir? Agora que vem o bom tempo, que tal fazer um pequeno treino: parar e reparar em situações que o fazem sentir coisas: um pôr-do-sol, crianças a brincar, uma praia, um gelado, o cheiro do creme do protector solar. A ideia é percorrer os cinco sentidos e perceber o que é que aquilo o faz sentir. Friozinho na barriga, pernas a tremer, olhos bem abertos, coração a bater mais forte…, sentir-me mais ansioso que o costume, estar alerta… é MEDO. De quê? “Não sei” ; “Quero que desapareça!”, “Quero deixá-lo de sentir”. Para que serve o medo se é desagradável? Como é que eu faço para deixar de sentir medo?
Para reflectir sobre este tema, o medo, inspirei-me num livro, que aliás, ao que parece é para crianças (não deixem de ler por isso!): “O pequeno livro dos medos” de Sérgio Godinho. A primeira coisa a fazer é perceber então, o que significa o medo, assim surge a seguinte definição: ”sentimento desagradável que excita em nós, aquilo que parece perigoso, ameaçador, sobrenatural”. Duas ideias importantes nesta definição: a primeira, de que provoca em nós uma sensação de desconforto e desagrado mas simultaneamente parece ter uma função essencial na nossa adaptação porque nos põe alerta para os perigos à nossa volta. Mas afinal temos medo de quê? Temos medo de animais perigosos, de situações reais de perigo mas também temos medo de algo desconhecido, algo difuso. É este medo, que não conhecemos a sua forma, que está dentro de nós e nos acompanha, que causa a maior sensação de desconforto, tal como diz Sérgio Godinho: ”A ideia de um bicho desconhecido, nunca sabemos o que esperar dele. “, pois se não conhecemos não podemos ter controlo sobre ele. Depois de várias tentativas de eliminar o medo (que será o primeiro erro em lidar com o medo), o personagem do livro (o João) decide ir ao sótão e enfrentar “o bicho desconhecido”, quando o descobriu, e para seu espanto era só um bicho pequeno. Não deixa de ser curioso ter tanto medo de um bicho que é mais pequeno do que nós, o problema está que, antes de olharmos para os nossos medos eles parecem quase sempre maiores do que nós. Faça o exercício de pensar de que tamanho vê os seus medos. E como é que o medo reagiu ao João? “O medo, embora não tenha tido medo, olhou para o João com interesse. E o João olhou para o medo também. Ficaram a olhar de frente um para o outro, como se fossem dois velhos conhecidos que nunca se tinham visto. “. Então o João explicou ao medo porque tinha medo dele: ”…E eu só tenho medo de ti, porque penso que tu não fazes parte de mim. Mas tu fazes parte de mim, como os meus ossos e os meus pulmões. ….De maneira que, olha, fica cá dentro e encontra um canto para sentares. Mas cuidado: de cada vez que começares a abusar, vai haver guerra. Vou saltar, correr, espernear, lutar, falar, responder, perguntar, ou, muito simplesmente, pensar”. Tal como o João fez ao convidar o medo para arranjar um canto para se sentar, também podemos pensar que os nossos medos fazem parte de nós, eles não se vão embora, não são assim tão maiores ou mais fortes que nós. Assim, podemos convidá-los a sentarem-se num sítio onde sabemos que ele está e caso incomode demasiado, fazer qualquer coisa com ele, porque afinal já o olhámos de frente e sabemos o que esperar dele. “A adversidade tem o dom de despertar talentos ocultos que na prosperidade teriam ficado adormecidos”
Horácio Neste texto pretendo reflectir sobre o problema da superproteção e simultaneamente da importância da frustração no processo educativo de cada um de nós. A frustração é uma das condições essenciais para o nosso desenvolvimento, tanto ao nível do pensamento, das emoções e do comportamento. À partida esta afirmação pode parecer estranha, porque na realidade tendemos a evitar estar em situações que nos causem situações de frustração. No entanto, quando estamos confortáveis, seguros e não há necessidades que precisam de ser preenchidas, naturalmente não há motivação para procurar novas soluções. Este processo é extremamente importante na educação de uma criança, porque é ainda enquanto crianças que devemos aprender a lidar com a frustração. Muitos pais têm dificuldades em não frustrar os seus filhos, o que por um lado é natural porque lhes causa desconforto. Por outro lado, estão a impedir que os seus filhos tenham vivências inteiras com principio meio e fim. É também natural que as crianças peçam coisas, exijam atenção, façam chantagem, birras, não queiram cumprir regras, chorem, o que torna a tarefa de educar muito exigente. Quando um pai interrompe uma vivência de frustração de um filho (ex: à primeira tentativa de uma criança tentar colocar um brinquedo num lugar e não consegue, os pais vão lá e colocam eles o brinquedo no sítio certo), o que é que acontece? Em primeiro lugar, a criança não viveu a tristeza ou “dor” de não ter conseguido fazer a tarefa como era suposto, o que é extremamente importante para aprendermos desde cedo a estar com emoções que nem sempre são agradáveis mas que são importantes para o desenvolvimento da nossa estrutura psicológica. Em segundo lugar, impediu a criança de experimentar mais vezes e aprender a forma de colocar o brinquedo por si própria. Por último, a criança recebe a mensagem: “sou incapaz de fazer as coisas sozinha”, “sou incompetente”. É claro que os pais não o fazem com essa intenção mas ao superproteger a criança, ao fazer por ela, a dar sempre o que ela quer ou mesmo a ocultar verdades (separações na família, mortes) podem passar a mensagem que elas são mais frágeis e que não aguentam as situações. Nestas situações, os pais ao verem que as crianças estão a ficar aflitas com a situação podem sempre estar ao pé delas e incentivarem-nas a fazer por si próprias, por exemplo: pegar na mão delas e ajudar ou dizer que ela vai ser capaz. A frustração é assim uma forma importante de protecção, que contribui para um adulto com mais capacidade de se autonomizar. “ A autonomia é o estado de integração em que uma pessoa se encontra em plena concordância com os seus sentimentos e as suas necessidades” Arno Gruen Quando li esta definição de autonomia, o primeiro impacto foi: aqui está o ponto de partida para uma reflexão diferente sobre aquilo que andamos todos à procura. A principal diferença desta definição para outras, é que esta não contém a noção de afirmação da nossa independência, que está muitas vezes relacionada com a procura de poder (posse de coisas materiais ou de seres). É muito frequente, as pessoas afirmarem: “aquilo que mais quero é ser autónomo!”. Quando se explora o que é esta necessidade, estão quase sempre presentes afirmações como: “ter casa própria, sair da casa dos meus pais”, “ser bem-sucedido e ter um bom emprego”, “não depender de ninguém!”, “fazer o que quero!”. Quando afirmamos que “fazer o que quero” ou que “não queremos depender de ninguém”, será que não estamos a dizer que na realidade, queremos ter e sentir a liberdade para sermos nós próprios!?. Na maior parte das vezes, há uma falsa sensação de liberdade, porque sentimos que temos de provarmos constantemente o nosso valor aos outros (aos pais, aos amigos e colegas). A questão está em que “O esforço por sermos aceites pelo que é esperado sermos e fazermos torna-se um mecanismo para iludirmos a ansiedade interior. À medida que o sermos aprovados se torna o sentido da nossa existência, renunciamos à possibilidade de sermos amados pelo que somos realmente.” (Arno Gruen) No entanto, temos as outras pessoas, as que já “são autónomas” e que, aos olhos delas e dos outros não lhes falta nada; têm o bom emprego, a casa e uma relação e que muitas vezes chegam à terapia com a questão: “Não percebo porque é que me sinto assim, não tenho do que me queixar, tenho tudo o queria!”. Afinal, o que se está a passar com estas pessoas?. Ao que parece, há qualquer coisa que faz falta e que não conseguimos com a nossa independência mas sim com a capacidade de aprenderemos a identificar as nossas necessidades e as nossas motivações. É claro que este processo de adaptação à cultura vigente na nossa sociedade é difícil de combater, até porque somos educados desde muito cedo. Sobretudo, gostaria que cada um, reflectisse o que procura e precisa quando refere que só se sentirá autónomo quando tiver determinada coisa. Para finalizar, deixo o desafio: Afinal, o que é que me faz sentir verdadeiramente livre? Esta é uma reflexão sobre as famosas expressões: “aquela pessoa não tem personalidade!”, “Tens uma grande personalidade!” ou “aquela pessoa tem uma personalidade muito forte”.
Esta ideia da personalidade ter tamanho ou força, há já algum tempo que me chama a atenção. Quando oiço estas expressões, a primeira sensação que me causa é a de que há uma métrica (pequena/grande) ou um valor (bom/mau) para a personalidade, ou seja para aquilo que nos define. Muitas vezes associa-se a expressão ter uma personalidade forte ou vincada a pessoas que se destacam, ou que por vezes demonstram uma posição rígida nas suas atitudes e opiniões, que em alguns contextos pode ser adaptativo e noutros não, no entanto parece que é quase sempre algo valorizado. Nesta ideia da personalidade a metro, fica a sensação ou a exigência de que temos de ser de determinada forma para sermos valorizados. Mas a minha questão é: e onde ficam as pessoas que são mais discretas e/ou mais flexíveis e às quais não associamos estas expressões, terão elas uma personalidade pequena ou não têm personalidade? Certamente que não, todos nós temos uma personalidade, ou seja todos nós temos características psicológicas que moldam a forma como nos relacionamos connosco próprios, com os outros e com o mundo e que determinam padrões de pensar, sentir e agir. De entre estas características, há umas que se destacam mais do que outras, e necessariamente os outros vão senti-las de diferentes formas. E se no lugar de “tens uma personalidade forte” começássemos a dizer às pessoas: “gosto da forma como comunicas as tuas ideias”, “admiro-te”, ou em vez de nos referirmos aos outros como não têm personalidade: “acho que aquela pessoa ganhava mais em exprimir aquilo que quer”. Inúmeras são as expressões de desejo por aquele período do ano chamado férias: “Estou mesmo a precisar de férias!”, “Finalmente de férias!”. Todos nós precisamos daquele período justo de descanso reparador. O que aqui gostaria de reflectir convosco é precisamente esta definição central de férias o “descanso reparador”, um desligar do trabalho das preocupações, das novidades, das notícias, da vida dos outros, das exigências que somos submetidos ao longo do ano.
Acredito que cada vez menos conseguimos esse descanso, com a nossa constante ligação ao “mundo” através dos famosos “gadgets”. Não é difícil encontrar alguém no meio de um grupo de amigos com um desses gadgets com ligação à internet, o que tem claramente as suas inúmeras vantagens, contudo esta “acessibilidade” faz com que não haja momentos em que estejamos desligados do mundo, das preocupações, do trabalho. O ir “ só ao email” ou postar alguma coisa no facebook, é uma porta de entrada para o mundo das preocupações e mais, uma porta para que os outros: amigos, colegas e patrões considerem que estamos sempre acessíveis. Para além deste “não descansar total” soma-se outra questão que tenho verificado, parece que estamos cada vez menos habituados e por consequência com maior dificuldade em estarmos connosco próprios ou com os outros sem os mediadores tecnológicos. Deparo-me com o facto de que parece difícil para as pessoas saírem de casa sem levar vários desses gadgets. Cada vez mais oiço a expressão “isto é uma seca sem televisão”, “emprestas-me ai o teu telemóvel para jogar um jogo na net, isto é uma seca”, “não tenho nada para fazer vou ver os emails”, é claro que muitas vezes nos sentimos aborrecidos e sabe bem que alguma coisa nos entretenha em vez de sermos nós a procurar isso. No entanto não é desses momentos que estou a falar, aquilo que verifiquei é que este tipo de verbalizações são uma constante e em lugares bonitos e com muita coisa para explorar. E por último, uma questão que me toca especialmente, a perda do significado “conviver” , foi para mim frequente ver e estar num grupo de pessoas em que cada um está a ver coisas no seu gadget sem que haja uma troca de palavras, vivem-se experiências individuais sem que haja partilha de uma experiência comum. Parece-me importante, aprendermos a ter uma relação mais saudável com os nossos gadgets e resgatar mais a dimensão humana |
AuthorAndreia Santos Archives
September 2016
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