ANDREIA DA SILVA SANTOS | PSICÓLOGA CLÍNICA E PSICOTERAPEUTA
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Além das linhas da razão

Entre Caminhos... Uma reflexão sobre Escolha, Liberdade e Decisão

4/21/2013

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Este é um tema que eu gosto particularmente e sobre o qual, gostaria de partilhar algumas ideias.

Há pouco tempo li o livro “Aventuras de João Sem Medo” de José Gomes Ferreira, cujo primeiro capítulo ( o Homem sem cabeça)  me despertou mais uma vez para esta reflexão. Seguem-se algumas partes:

“... da clareira partiam dois caminhos, o dois clássicos de todas as histórias de encantos e prodígios: um asfaltado, cómodo, ladeado de amendoeiras em flor; o outro, pedregoso e eriçado de espinhos, urtigas e urzes...
         (...)
- És a fada dos dois caminhos?...
- Bem, bem. Deixa-te de lérias - impacientou-se João Sem Medo. - E, já agora, toma a sério o teu papel de fada e aconselha-me qual dos caminhos devo seguir: o asfaltado ou o dos pedregulhos?
- Olha menino - elucidou o contínuo.....o bom caminho conduz à Felicidade. E o mau, à infelicidade...
- Vou pelo bom caminho, como é costume, claro - resolveu João Sem Medo, embora desconfiado  de tanta facilidade aparente. - O contrário seria idiota e doentio.

Entretanto no caminho da Felicidade surge um descabeçado que diz:
- Que a paz e a estupidez sejam contigo. Vens preparado para a operação?
- Que operação? - interrogou João Sem Medo, suspeitoso.
    (...)
- Ninguém pode seguir o caminho asfaltado que leva à Felicidade Completa  sem se sujeitar a este programa bem óbvio. Primeiro: consentir que lhe cortem a cabeça para não pensar, não ter opinião nem criar piolhos ou ideias perigosas. Segundo e último: trazer nos pés e nas mãos correntes de ouro...
    (...)
- Não, nunca. Então prefiro o outro caminho.
- Palerma! - lamuriou o guarda ( descabeçado) com os olhos do peito marejados de lágrimas sinceras. Vais passar fome, sofrer dias de terror aflito...

Fica a curiosidade para quem quiser saber o que aconteceu ao João Sem Medo. Por agora, gostava de ficar com estas reflexões:  parece que para o João Sem Medo foi fácil optar (sim ele escolheu mesmo o outro caminho). Terá sido esta opção uma escolha ou uma decisão? As decisões parecem ser sempre dificeis, o que terá facilitado o processo do nosso personagem? Será o João Sem Medo, um João livre?

Relativamente à primeira questão, parece se tratar de uma decisão. Antes de uma decisão houve várias escolhas (caminhos), de certa forma a decisão é a ponte entre o desejo (de entre as escolhas) e a ação. Em termos existenciais, a dificuldade em tomarmos decisões  surge pelo facto de estarmos a eliminar possibilidades (de sermos, de estarmos, de fazermos), ou seja, em última análise a decisão é uma limitação da nossa experiência. Perdemos coisas e é difícil aceitarmos as perdas, daí os sintomas de ansiedade e culpa associados a estas situações. Por outro lado, a decisão também nos força à aceitação de uma responsabilidade pessoal.

Em termos gerais, a grande diferença entre escolha e decisão reside no facto de, enquanto que a escolha implica liberdade, a decisão implica uma seleção.

E terá o João Sem Medo se sentido ansioso? Provavelmente (mesmo com este nome), colocando esta hipótese parece ainda assim que a dúvida não era uma realidade. Porque será? De certo modo, porque o João Sem Medo sabia o que queria, na realidade sabia aquilo que para ele fazia sentido ser a sua existência, mesmo que tal implicasse dificuldades e perdas  como a “Felicidade Completa”. É importante saber onde estamos ( quem somos) para decidir para onde queremos ir. Eu costumo dizer, muitas vezes relacionada com o meu trabalho como psicoterapeuta: a partir do momento em que temos consciência, tudo o resto é escolha. Considero que conhecer a realidade (a nossa e a dos outros) aumenta o nosso leque de opções,ou seja aumentamos as nossas escolhas, que podem ou não traduzirem-se em decisões.

Ter consciência é aperceber-nos das implicações que cada caminho tem para nós, mas antes de iniciar caminho não saberemos qual o melhor a seguir. Por vezes, tentamos controlar esta situação, procurando as melhores explicações ou argumentos. Experimentem arranjar um bom argumento para a escolha de um caminho e vejam o que acontece a seguir, não tardará, para vocês próprios ou outros, arranjarem um tão bom argumento a favor da escolha do caminho ao lado.

Quanto à interrogação se o nosso João é ou não livre, a minha perceção é de que quanto mais cosnciência temos daquilo que somos e queremos, mais escolhas temos e isso aumenta a nossa sensação de liberdade. No caso do João Sem Medo, ele sabia que não queria viver uma vida sem cabeça (sem pensar, sem piolhos, sem ideias perigosas), neste sentido considero-o “livre”, decidiu em consonância com o que lhe fazia sentido, mesmo que para o cabeçudo essa não tivesse sido a melhor decisão.

Mas sobre liberdade será um outro texto...

Entre caminhos, nenhum caminho será fácil, mas mais dificil se irá tornar se não nos fizer sentido e nos sentirmos incongruentes.

Um obrigado especial  à pessoa que me recomendou este livro!









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    Andreia Santos
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